Porque nem só de disparates e piada politicas vive uma mulher, e porque às vezes também me apetece balbuciar coisas sérias, apercebi-me hoje do quanto tantas coisas já não me satisfazem nem encantam…. Normalmente é de carro, vidros abertos e música em volume suficientemente audível que espaireço e me ocorrem crises existenciais. Meu amigo, quem não tem mota, caça com carro.
O Paco Bandeira tem um êxito musical, “a ternura dos quarenta”, mas tendo em conta o palmarés da vida pessoal do homem logo me pareceu que não tem bem noção do que está a falar. Não é que não haja ternura após os quarenta, claro que há. Felizmente é coisa que se encontra em todas idades, mas depois dos quarenta é preciso muito mais do que isso. Este texto não é uma perspetiva feminina, é uma visão geral (minha) do que é o “amor” a partir daquela que é considerada por muitos uma idade fatídica… Talvez por nos apercebermos que se tivermos sorte ainda temos mais 40 anos de vida, caso contrário temos mais uns 20 se tanto (qual delas é sorte ou azar deixo à escolha de quem resolver acompanhar estas linhas até ao fim... do texto!)
Por esta altura da vida a maioria das pessoas estão casadas (aqui incluo todo o tipo de relações de vivência em comum), com filhos. As suas rotinas são para isso mesmo, a família. Uns mais felizes do que outros, arrisco-me a dizer que muitos o continuam a ser por conforto, dá menos trabalho aturar o maluco que já se conhece do que navegar ao calhas.
Os que já foram casados e são agora solteiros, vêm com um, dois ou mais filhos atrás, logo à partida, qualquer pessoa sem filhos arrisca-se grandemente ao envolver-se com alguém com filhos. Sabe logo à partida que a outra parte NUNCA vai estar tão disponível para nós, como nós para ele/a o que é normal, são prioridades. Por isso há que ponderar muito, muito bem se realmente queremos arriscar a aposta numa relação em que estaremos quase sempre (senão sempre) em 50º lugar. Por outro lado, seria algo decente das pessoas com filhos ponderarem também o envolvimento com alguém sem filhos, ao fim ao cabo “it takes two to tango” e se já sabem que não vão estar igualmente disponíveis talvez fosse melhor porem a realidade à frente das “comichões físicas”, porque há sempre sentimentos que se podem desenvolver e claro está, alguém vai perder.
Depois, vem uma outra conclusão … Aos quarenta a grande maioria de nós já se deparou com um precipício perfeito, “o/a tal” onde mergulhamos tão fundo que quase morremos lá dentro. Quase. Não morremos, mas tornamo-nos profissionais do mergulho e como tal sabemos que por muitos mais mergulhos que surjam nenhum nos vai levar até às profundezas onde não se vê qualquer luz, onde não vive nada, onde mal há oxigénio e de onde levámos o que nos pareceu uma eternidade a sair, se é que saímos. É como um atleta de salto à vara que saltou 3.50 mts e agora encontra saltos de 3 mts… Não é a mesma coisa. Nunca vai ser. Quando muito encontraremos um saltados de 3.49 mts.
A seguir lidamos com aquelas maravilhas chamadas “estigmas sociais” aqui sim, a perspetiva para os homens é bem melhor. De longe. Solteiros, sem filhos depois dos quarenta são “garanhões”, “bon-vivant”, “playboys”, um mundo de coisas boas, para além de ninguém lhes levar a mal “as gajas mais novas”, galã que é galã já se sabe!
Já do lado das mulheres, solteira e sem filhos depois dos quarenta com certeza tem defeito. Se é vista com diferentes companheiros é “puta”, se for minimamente bonita então é uma GRANDE puta, vadia, reles, ordinária… É boa mesmo para comer e deitar fora. Não são palavras minhas, embora seja eu a escrevê-las. Há que ter um enorme jogo de cintura para vivermos a nossa vida como mulheres solteiras e independentes e não nos deixarmos afectar pelas más línguas que infelizmente são muitas vezes, mais femininas do que masculinas.
Depois vem aquela história de que a “idade é apenas um número”. É verdade, é apenas um número, representativo da quantidade de segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e anos em que andamos a girar à volta sol e da quantidade de litros de água que já “passaram debaixo da ponte”. Não é qualquer coisa que nos dá “picos no pipi”, a não ser que estejamos cientes de que vamos só “dar uma voltinha”. E mesmo assim, às vezes é aqui que encontramos o mergulho de uma vida e que só pode correr mal dada a profundeza do mesmo.
E quando nos cheira a esturro é porque há mesmo fogo. Somos raposas velhas, lobos solitários, “murder crows”, cães vadios, gatos do telhado, uma panóplia de rótulos aplicáveis. Quando no dizem que perdoar é um dom, já temos um rosnar automático seguido dum “vai-te foder!”. Enfim tornamo-nos aquilo a que as “vítimas abandonadas” chamam de “cabras” ou “cabrões”. Viramos costas e vamos para o canto mais próxima lamber a ferida.
Acho que depois dos quarenta, quando somos solteiros e sem filhos, somos quase como que os últimos dos piratas, toda a gente acha giro dar uma volta no navio, mas poucos ficam para continuar a viagem até ao fim da vida, até porque isso exige saber navegar em mar alto o que não é para estômagos sensíveis. Somos o último dos tigres brancos, um exemplar perfeito para mostrar aos amigos mas que depressa perde o brilho assim que deixa de ser novidade.
Por outro lado, talvez por culpa nossa, somos mesmo é gatos do telhado… É, até nos sentamos ao teu colo, até damos um ou outro ron-ron, e ficamos por ali à lareira, mas depois perdemo-nos no silencio das noites de lua cheia, e preferimos dormir ao relento onde já sabemos que resistimos bem à chuva e ao frio. Os gatos do telhado são fodidos. .!.
A culpa disto é do Phil Collins e do “I can feel it coming in the air tonight” …
Amanhã vou mas é ouvir Ramstein e passar pelo Youtube para aprender a fazer bombas caseiras com detergente da loiça.
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