Cá no fundo há um mundo
Há almas com uma força
do tamanho do mundo
que dão às pernas sem fim
nunca saindo do fundo.
Há pessoas com vontade,
a mesma do vento Norte,
que leva para frente
todo o tipo de velas,
da mais fraca à mais forte.
Eu só não sou uma delas.
Também nadei sem fim,
mas a voz lá no fundo
chamou o meu nome,
encantou-me,
apoderou-se de mim.
E cá em baixo no fundo
descobri o meu mundo,
com criaturas divinas
igualmente perfeitas,
que moram debaixo das camas,
armários escuros
e mentes desfeitas.
Cá em baixo no escuro,
também há risos de infantário,
festas de aniversário
e almas eleitas.
Cá em baixo no fundo
os corcundas torcidos,
demónios perdidos,
espíritos insanos
e monstros sangrentos,
Não são seres horrendos,
não são seres malignos,
não são seres disformes.
São apenas a vida
de uma casa inundada
de bilhetes só de ida.
São o pavio das velas
que se afundaram sem vento,
não por desgraça
ou infeliz desalento.
Mas porque enquanto nadavam,
a mão fria do mundo
chamou-os a casa,
levou-os ao fundo.
E ao olharem para cima
não sentiram saudade,
aprenderam que no escuro,
onde a luz se não vê,
todos os sentidos se acordam
numa vida-morta plena de orgulho
numa vida-morta de pura intensidade.
in "#13TREZEVersos em duas rodas, curvas, ondas e outras linhas menos rectas."
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