O caminho que vivemos é repleto de cansaços, físicos ou mentais. Os físicos dizem-se fáceis de curar, umas horas a mais de sono e normalmente é quanto baste. Os mentais nem tanto. Os cansaços mentais são os que apelidamos de "bagagem". São memórias, medos, saudades, inseguranças, todos eles abstractos e talvez por isso tão mais dificeis de curar.
A "bagagem" não pesa maioritariamente nas pernas, embora haja dias em que as pernas não parecem querer andar e não há sono que as cure.
A "bagagem" não desaparece, não diminui, não abranda... e mesmo que nos sentemos à beira do caminho ela não nos sai de cima.
O modo como vemos o mundo, as pessoas que nos são queridas e as outras que nem tanto, o que vemos na nossa realidade e o modo como a vemos depende sempre da nossa "bagagem". E por isso é tão importante aceitá-la como parte integrante de nós. Negá-la não leva a lado nenhum pelo contrário... atrasa.
Quando carregamos um saco e resmungamos o caminho todo, não arranjamos mais força. Mas se aceitarmos o peso do saco, automaticamente o nosso espírito levanta-se (mesmo que a custo) e diz "vamos lá carregar isto!". Mesmo quando temos de nos sentar para descansar, há que pensar que quando continuarmos temos de pôr o saco às costas. A "bagagem" é tudo o que nós somos, é a aprendizagem de tudo o que está para trás. É o nosso espírito.
E não há que ter medo ou resmungar com ele. Aceitá-lo como dádiva do que já vivemos é a única maneira de continuarmos o caminho.
E se encontrar-mos pelo caminho quem tenha "bagagens" mais leves, podemos esperar servir de exemplo: "Se algum dia a tua bagagem ficar mais pesada, lembra-te que a podes continuar a carregar, o teu espírito depende disso."
E se encontrar-mos alguém com uma bagagem do tamanho da nossa ou maior, conversamos. Trocamos "cromos", ouvimos, absorvemos e possivelmente até encontramos companhia para alguns quilómetros do caminho.
Se não vivemos não temos espírito e consequentemente não temos "bagagem", logo o nosso espírito depende do peso da bagagem, tal como nós dependemos de viver para o ter.
O cansaço não pára e nós também não. Logo o cansaço será uma reacção natural à vida, não ? Então porquê fugir ou fingir ignorá-lo. Porque é que não nos damos ao luxo de estarmos cansados, porque é que lutamos tanto contra a "bagagem" que é parte integrante de nós? É nosso. Provavelmente a única coisa que é realmente nossa é a "bagagem". Carregá-la é essencial.
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