E se eu desaparecesse? Ou o tempo? Ou melhor, os relógios?
Um homem fica a saber que vai morrer em menos de uma semana, mas é-lhe dada a oportunidade de comprar dias de vida, basta para isso que faça diversas escolhas.
O primeiro gato que tive chamava-se Jacó, era tigrado dourado, meigo de mel e tinha um buraco na ponta da cauda feito pelos dentes do nosso pastor alemão com quem partilhava as noites, abraçados um ao outro. Assim que nascia o Sol o Jacó subia o muro em acelerado e ficava lá em cima de sorriso felino vincado como quem diz “hoje não me apanhaste a ponta do rabo”. Era um amor da noite, de dia tinham de manter as aparências, um era cão e outro era gato, aparentemente as aparências aparecem até nos animais “irracionais”, eu prefiro chamar-lhes pelos nomes das espécies uma vez que pouco ou nada sei da sua racionalidade ou falta dela, quem sou eu para a medir, julgar ou avaliar.
Que valor tem a nossa vida? E para quem é que tem valor? Até onde estamos dispostos a ir para viver mais um dia, não uma promessa de vários dias ou anos, nada disso, apenas mais um dia, de cada vez, em cada oferta.
Detestei o título deste livro, mas como é obvio tive de o ler e ainda bem que o fiz. Não o li todo de uma vez porque tinha de trabalhar no dia seguinte como todos os comuns mortais, afinal nem todos nascemos gatos, ou melhor, gatos de casa.
Li-o a medo, o que é que daqui vai sair? Depois do Jacó tive mais quatro gatos, todos ao mesmo tempo que viveram entre 18 e 24 anos, o título é impensável para mim, mas o desfecho faz todo o sentido. Valeu o esforço que fiz para não saltar de capítulos.
Actualmente tenho uma gata. Tenho partilhado da companhia de gatos desde que me lembro, em espaços e momentos completamente diferentes da minha vida, fazem parte da minha existência e da minha história. Não sou uma daquelas pessoas que “arranja” um gato por se sentir sozinha, sou das outras, aquelas que falam com eles e lhes pergunta “porque é que estás zangada?” Sou desses animais, que sorri internamente de alegria quando um gato piscas os olhos.
Leiam o livro se puderem, quiserem. Perdoem-se o tempo perdido, o que tomaram por garantido e acima de tudo aproveitem aqueles espaços de vida que existem entre o acordar e o dormir da melhor forma possível, mesmo que seja a fazer festas a um gato.
O mundo sem tempo, sem escadas, ou garfos, ou qualquer oura comodidade é perfeitamente pensável, mas sem gatos? Por que raio havia o mundo de existir se fosse para ser sem gatos.
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