Este é um coração secreto. Este não vou dizer onde fica. É meu e dos locais que o conhecem. Tenho saudades deste coração.
Para mim é mais do que uma simples poça cujo formato, por acaso da Natureza e cuidado dos que dele se desviam para o conservar, se assemelha àquele que é mundialmente reconhecido como o símbolo do amor.
Regressa sempre que começam as primeiras chuvas de Inverno e por lá fica até que venha o tempo seco.
Aparece após o Equinócio de Outono, época que simboliza a descida de Ataegina ao submundo para se reencontrar com o seu amor Endovélico, Senhor do Mundo dos Mortos. Um coração feito de chuva que simboliza a descida da Mãe da Primavera e do Verão ao fundo do Mundo em busca de um amor que só é permitido uma vez por ano.
O Inverno é o tempo dos amores duros, difíceis, em tudo idênticos á sua estação menos na temperatura. Nos amores de Inverno há lareiras, mantas, cigarros fumados meio encolhidos, casacos grossos que em nada deixam transparecer as formas dos corpos, há corridas debaixo de chuva gelada, aquecer de mãos com a respiração um do outro, o tirar de luvas para encostar a orelhas arrepiadas. Há brincadeiras com a respiração de encontro o nevoeiro. O Inverno é uma história de amor em que os olhos não mandam. Nada do que se vê no Verão está á vista no Inverno, ficam apenas os sentidos da pele. O Inverno mora á flor da pele.
Quero que Ataegina se reencontre com Endovélico muito em breve e que por lá fique todo o tempo que quiser. Tenho saudades do Inverno. Tenho saudades do coração secreto.
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