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  • Foto do escritorCarl.Aventura

Camões e Natércia ?


Os amores felizes são vividos, os infelizes recebem estátuas, e às vezes nem isso, apenas memórias.


A estátua nesta foto encontra-se em Constância (vila Ribatejana), junto á designada Casa de Camões, num pseudo-jardim, escondido e abandonado como quem tem vergonha do amor ali representado. Há pouca informação sobre esta estátua, é quase como se a ousadia do seu escultor tivesse nascido e morrido com ele mesmo. O fulgor do atrevimento, a força da criatividade sucumbiu ao marasmo daquilo que ainda é realidade portuguesa. O amor é santo, o sexo esconde-se.


Provavelmente uma das estátuas mais bonitas e bem conseguidas que já vi em Portugal, ali enterrada como se estivesse a sofrer do mesmo desterro de que sofreu o seu Camões nela representado, nú e apaixonado ou pelo menos encantado.


Camões & Natércia ?

Não se sabendo ao certo o motivo do desterro que viveu em Constância, supõe-se que possa ter sido pelas alusões indiscretas que teria feito ao rei, na comédia El-Rei Seleuco, é possível que sim… Mas a segunda suposição é bem mais interessante e justificaria tal estátua.


Diz-se que Luís Vaz de Camões era ruivo, óbvio portador do dom da palavra, portava também o do encanto. Diz-se que “gozava de aceitação junto às damas de seu tempo” (até á data de hoje só conheci um Camões, mas não é ruivo), e como tal esteve diversas vezes metido em confusões, sendo que o desterro em Constância pode muito bem ter sido o infeliz resultado do seu amor (apenas platónico é o que dizem) por D. Caterina de Ataíde, a quem Camões, por anagrama, chamou Natércia.


Qualquer que tenha sido o motivo que lhe destinou o desterro, parece-me que Camões terá sabido aproveitar mais do que qualquer um de nós venha a saber. O vinho Ribatejano é um excelente companheiro e as margens do Tejo e do Zêzere já viram muita água passar por baixo daquelas pontes.

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